sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Número Quatro na Mística Oriental e o Número Três Entre os Romanos


Por estar relacionado com os quatro pontos cardeais desempenha o número quatro um papel de alto relevo na mística oriental. Mesmo sem ser perfeito aritmeticamente o número quatro foi, pelos orientais, apontado como um número perfeito.

Robert Fielding (1881-1950), estudioso dos segredos da Cabala, em seu livro Estranhas Superstições e Práticas de Magia, mostra o alto prestígio do número quatro na mística oriental.

Sugestionados pelos quatro pontos básicos da bússola, pelas quatro estações, os antigos tinham certa veneração pelo número quatro. Tem esse número papel saliente nas lendas chinesas. Os pontos cardeais e as estações do ano eram representados por cores e para cada cor correspondia um animal simbólico. E eram assim apontados aos crentes:

Para o Este a cor seria o azul e o animal, o Dragão. Os mesmos símbolos eram adotados para a primavera. O par seria chamado Este-Primavera.

Para o Sul, tomavam o vermelho como a cor significativa e o animal seria o Pássaro. O Sul estaria ligado simbolicamente com o verão.

O outono estava relacionado com o Oeste. A sua cor era o branco e o animal o Tigre.

Em quarto lugar viria o Norte, que fazia par com o inverno. A cor para este conjunto Norte-Inverno seria o preto e o animal a Tartaruga.

Tudo inteiramente arbitrário e sem o menor sentido cabalístico. Os quatro pontos cardeais foram, como acabamos de ver, de alto relevo com todo o simbolismo primitivo. O ano com suas quatro estações e os doze períodos de tempo realçado pelo aparecimento de cada lua nova.

A tradição dos quatro rios do Paraíso fluindo para os pontos cardeais, dividindo a Terra em forma de cruz, foi transmitida a muitas Mitologias. No Sineru (?) dos budistas, cresce a árvore de Damba —, de quatro galhos, ou Árvore da Vida — e de suasraízes tombam quatro correntes sagradas — Norte, Sul, Este e Oeste.

O paraíso dos chineses, de acordo com Fielding, é dividido pelas quatro correntes da imortalidade. Quatro rios puros de leite percorrem o Asgard, o Eliseu, que seria o céu da suprema ventura dos escandinavos.

A cruz grega representa os ventos dos quatro pontos cardeais, Cruz idêntica era usada pelos índios americanos aborígines, para representar os ventos que traziam a chuva. O quatro foi, pelos antigos, apontado como o número perfeito, porque quatro são os lados do quadrado, quatro são as virtudes, quatro as estações, quatro os elementos (na crença antiga), quatro as patas de um dragão. Há quatro letras no nome de Deus (em latim) e quatro no nome do primeiro homem: Adam. E tentavam dar a cada letra de Adam uma significação mística, totalmente fantasiosa: O primeiro A, o A inicial, significa anatole, o Este, em grego; o D, inicial de dysys, Oeste; o segundo A seria arktos, Norte; e o M final, membrion, Sul. E jamais os místicos poderiam esquecer os quatro cantos do mundo que são tocados pelos quatro ventos. As quatro criaturas sobrenaturais, para os primitivos chineses, eram: o dragão, o unicórnio, a fênix e a tartaruga. Esses animais presidiam os destinos da antiga China. O dragão, no simbolismo chinês, tinha um papel de relevância e indecifrável mística, quase impossível de compreender para nós ocidentais. Para os sacerdotes o dragão era um ser quádruplo, isto é, com quatro atributos essenciais. Em sentido abstrato, há os dragões dos quatro mares.

Referem-se os místicos aos quatro irmãos, chamados Yao, que governam os quatro mares, a saber: Norte, Sul, Este e Oeste. São assim descritos, segundo o erudito orientalista Robert Fielding:

1) O dragão celestial, que sustenta os céus, guarda e ampara as mansões dos deuses para que elas não caiam;

2) O dragão espiritual, ou divino, que beneficia a humanidade, ordenando ao vento que sopre e à chuva que caia;

3) O dragão terrestre, que assinala os cursos dos rios e correntes;

4) O dragão do tesouro oculto, que guarda o mundo oculto dos mortais.

Com a renovação social e política da China todas essas crendices estão desaparecendo. Dentro de alguns anos só haverá na China dragões de papelão para distrair as crianças nos dias de festa nacional dos comunistas.

Agora passemos ao número três entre os romanos. Para os romanos e também para os gregos, o número três era dotado de poder misterioso e oculto: três eram as Graças, três as Fúrias, três os Deuses principais etc. As festas em honra de Marte eram denominadas Trictyes, pois no decorrer das cerimônias eram sacrificadas três vítimas. Muitas das festas pagãs duravam três dias, porque esse número era de bom augúrio para os romanos. Ainda conservamos entre as nossas tradições, o carnaval, que dura três dias.

Como explicar a origem da palavra três que veio do latim tre e que deu, em francês, trois, em italiano tre, e em espanhol tres?

Trata-se de um problema bastante curioso em Filologia. Pretendem alguns filólogos que a palavra três lança suas raízes numa forma sânscrita, isto é, na forma lar que significa exceder, transpor, ir além. O três ia além do um, e  além do dois.

E por que não seria tal nome aplicado ao quatro, que excede o próprio três, ou mesmo ao cinco, que excede o quatro? A explicação dada pelos pesquisadores e orientalistas era a seguinte: A contagem era feita pelos dedos da mão, a saber: um, o polegar;  dois, o indicador; e, assim, a contagem três iria coincidir com o dedo maior, isto é, com o dedo que excede os outros, isto é, que excede os outros quatro, Essa explicação que, para muitos filólogos, parece bastante fantasiosa não deixa de ser sugestiva e interessante. Com desmedida ênfase colocavam em evidência as coleções que totalizam três, isto é, os conjuntos notáveis de três elementos:

Três, as partes do Universo: Céu, Terra e Inferno.

Três, as parcelas da Eternidade: Passado, Presente e Futuro.

Três, os reinos da Natureza: animal, vegetal e mineral.

Três, as partes do corpo humano: cabeça, tronco e membros.

Três, as dimensões do espaço: comprimento, largura e altura.

Extraído do Livro : As Maravilhas da Matemática (Malba Tahan)

Nenhum comentário:

Postar um comentário